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Friday 21 May 2010

TRIBUNAIS SUPERIORES... PARA QUE SERVEM MESMO????

TODAS AS INFORMACOES DADAS ABAIXO (JUNTAMENTE COM OS ARTIGOS ANTERIORES) PODERAO SER LIDOS NOS ARQUIVOS DO ALOYSIO BIONDI


Direitos na lata de lixo
Jornal Diário Popular , quinta-feira 30 de março de 2000




Você pensa que a ação na Justiça pedindo a suspensão da privatização do Banespa foi ‘‘coisa de sindicato’’? Nada disso. A iniciativa partiu de nada menos de 11 procuradores da República, integrantes do Ministério Público que, como esta coluna relembrou ontem, foi criado exatamente para defender os direitos do cidadão e da sociedade em geral, inclusive contra abusos (isto é, desrespeito às leis) dos governantes. Para justificar o pedido, os 11 procuradores da República apontaram e demonstraram a existência de mais de 20 irregularidades, ilegalidades e inconstitucionalidade cometidas pelos governos FHC e Covas no processo de venda do banco. Vale dizer, detalhes que trarão prejuízos ao Estado, à população, como aconteceu em tantas outras ‘‘privatizações’’, verdadeiros negócios da China para enriquecer grupos empresariais nacionais e multinacionais.

Os argumentos foram acolhidos, e o leilão suspenso, em uma primeira etapa. Mas o governo recorreu a um Tribunal superior e o juiz anulou a suspensão. Por quê? Os procuradores da República estavam errados? Não é nada disso. Como foi explicado ontem, não é mais assim, com base em leis e direitos, que os tribunais superiores estão tomando decisões no Brasil — conforme críticas dos próprios juízes, advogados e juristas. Agora, basta o governo dizer que ‘‘determinada’’ arbitrariedade sua ‘‘atende aos interesses nacionais’’, e os tribunais superiores decidem a seu favor.

Foi assim mesmo, no caso do Banespa. Os advogados do governo alegaram que, com o atraso nos leilões e venda do banco, o governo teria um ‘‘prejuízo de R$ 189 milhões em seis meses, e de R$ 394 milhões em um ano’’.

Que cálculo é esse? Segundo os advogados do governo, se o Banespa fosse vendido — possivelmente pelo preço estimado em torno de R$ 2 bilhões —, o governo poderia usar esse dinheiro para pagar uma ‘‘fatia’’ de sua dívida, deixando assim de pagar juros de 19% ao ano, ou aqueles R$ 394 milhões em um ano.

O argumento é vergonhoso. Primeiro, porque o Banespa pode dar lucros acima de R$ 1 bilhão por ano, isto é, muito mais que o dobro do ‘‘prejuízo’’ alegado com os juros de R$ 390 milhões. Em segundo lugar, a venda do Banespa às pressas pode trazer prejuízos bilionários ao povo de São Paulo, várias vezes superior aos gastos com juros: no Rio, auditorias contratadas pelo novo governo mostraram que o Estado teve um prejuízo estrondoso, de nada menos de R$ 12 bilhões (30 vezes, ou 3.000% do valor dos juros do caso Banespa) com a privatização do Banerj, vendido na administração anterior.

Esses cálculos mostram como são falsos os argumentos que falam em ‘‘interesse nacional’’. Mas, repita-se, não é esse o aspecto verdadeiramente importante da questão. Nenhuma nação sobrevive se o próprio governo passa a descumprir, sistematicamente, as leis que estabelecem os direitos e deveres dos cidadãos e governantes. No Brasil, direitos e democracia estão sendo jogados na lata do lixo, em nome de pretensos ‘‘interesses nacionais’’. Com a ajuda de tribunais superiores.

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